domingo, 9 de agosto de 2009

PREFÁCIO

Nenhum exagero parece residir na grave afirmação de que a construção de um trabalho exaustivo quanto ao desenvolvimento histórico-epistemológico da Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial se apresenta como um desafio ainda não respondido à altura de sua importância e necessidade; ainda mais se reconhecidas as complexas peculiaridades de tal desenvolvimento nos contextos culturais latino-americanos. Esse é um fato que pode ser cotidianamente experimentado por todos aqueles que, professores ou estudantes, se aventurem pela experimentação a partir de tal perspectiva em Psicologia. De uma maneira geral, a literatura a que temos fácil acesso demonstra-se ainda bastante tímida – a mera catalogação de idéias e fatos biográficos dos autores, seguida de incríveis imprecisões conceituais, e de uma evidente incapacidade na facilitação de um diálogo rigoroso e criativo entre Filosofia e Psicologia (principalmente em suas dimensões de atuação), não são situações raras…
Nesse sentido, o presente texto se apresenta já, mesmo na modéstia de suas pretensões – “Apontamentos para uma História…” –, como um potente ensaio de superação de tal situação, precisa, e principalmente, por apresentar uma natureza teorética profundamente provocativa: decerto, é esta uma marca pessoal de seu autor!
Bem distinta ao desdém, no entanto, a pró-vocação, antes que uma irresponsável intenção de mera ridicularização daquilo que se faz seu tema, alberga uma respeitosa e fecunda potência vocativa: marca hermenêutico-dialógica essencial a todo genuíno fazer teorético, o qual, mesmo que apenas inaugurado na apropriação do transmitido, somente pode completar-se como tal na transformação do transmitido ante o mundo prático que tem como horizonte. Assim, para nossa felicidade enquanto estudantes e professores de Psicologia (Fenomenológico-Existencial), não é este mais um insípido e infecundo exercício pseudo-filosófico de contentamento da Psicologia consigo mesma.
O que encontrará o leitor a seguir se revela, antes, como uma ousada exploração crítico-criativa das possibilidades apresentadas pela tradição filosófica fenomenológico-existencial para a atuação do psicólogo e psicoterapeuta; fruto viçoso de anos de teorizações e experimentações pessoais do autor, marcados por uma curiosa coragem de traição (ecos deleuzianos…). Postura teorética, no mínimo, complicada e contraditória para muitos, já que fundada num movimento sutil do pensamento; como diria Derrida, numa fidelidade sem dogmatismo, que leva, por vezes, a contradizer ou construir uma crítica por fidelidade: confusão para muitos que a ela se aproximam sem qualquer sensibilidade para seu métron…
A nós outros, companheiros de exploração e, em certo sentido, cúmplices das traições que marcam este trabalho, resta atentar às originárias palavras nietzscheanas, que abrem Ecce Homo: “Aí não fala um fanático, aí não se ‘prega’, aí não se exige fé (…) Guardai-vos de que não vos esmague uma estátua!”

Herlon Alves Bezerra
Palmas/TO, abril de 2006.